domingo, 26 de fevereiro de 2012

Derivar Meninos III

Era uma tarde escura. Os meninos voltavam de onde tinham ido, como sempre. O menino-parado estava a ver passarinhos carregando futuro no bico. O seu azul era tão luz que seus olhos faziam lanternas para o que vinha. Dois meninos que passavam por ele na escura-velocidade espantaram-se com o parado do menino e irritaram-se para si. Era tanto nervo-espinafrado que as palavras ponte-aguadas pulavam sem parar na direção do menino. Saiam magras de intenção e caíam gordas no chão. Iam amontoando-se. Algumas escorriam pelos narizes, outras pelos ouvidos, algumas desfaziam o nó do umbigo e desmanchavam os meninos de sua meninice. O menino-parado parecia não entender nada. A única coisa que o menino fazia era continuar parado. Uma muralha de palavras foi entocando o menino que resolveu tirar uma gaita do bolso e tocar no dentro-do-aqui sem ter o que dizer. As palavras no chão, foram ficando animadas e uma ao lado da outra, flutuaram o espaço. A princípio algumas diziam devaneios e aos poucos fizeram uma roda-de-mãos-dadas. O menino abriu a boca em bocejo. Enrolou-se naquela colcha-de-guardar-segredos que flutuava na imensidão e dormiu. Acordou-se no outro dia mais parado do que nunca e envolvido pelas palavras que roçavam no seu rosto dizendo: Anda, pode andar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário