sábado, 25 de fevereiro de 2012

Derivar Meninos II

Ele olhava para algodão e via feijão. Um dia caminhando por um campo de plantação de algodão ficou com medo de tanto feijão que poderia dali nascer. Quando sonhava-algodão-nuvem-do-céu sua cabeça pensava feijão. Quando comia algodoava o palato mole. A professora-da-casa-saudade-de-saber ensinou que no fundo dos copos recheados de algodão nasciam feijões. Era preciso cuidar. O menino tinha medo de cuidar. Achava que tudo que era cuidado viraria feijão. Ele não gostava de comer feijão. Havia uma comida que na vida de todos que ali viviam era A Verdade: arroz com feijão. Mas o menino não gostava de comer verdades. Ele gostava de inventar. Um dia o menino cresceu um tanto e descobriu que feijões não nascem de pés-de-algodões ou copinhos úmidos-de-mentira. Descobriu que brotar não é colher antes de plantar. E que cuidar é outra coisa. Descobriu que brotar não podia ser sem chão. Descobriu. Tirou a coberta de cima de si e levantou-se da cama. Espreguiçou-se. Abriu a boca e todo mundo viu uma lágrima escorrer de seus olhos. Quem olhava aquela lágrima dizia que era de verdade.

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