terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Navegar Meninos I

Atrás do monte mais alto daquela região, existia a Cidade-dos-sem-Conversa. Naquele lugar, homens e mulheres andavam pelas ruas apenas para cumprirem seus compromissos: ir e voltar, comprar e pagar, levar e trazer... Tudo caminhava pra frente, até que a Mulher, que usava uma capa branca, certa feita, ao cruzar com uma outra Mulher de Chapéu-em-Espiral, ouviu: - Bom dia! A Mulher-de-Capa-Branca espantou-se um tanto, que gritou e ao olhar para trás percebeu que a sua sombra havia desaparecido-de-susto. Desesperada, a mulher passou a procurar a sua sombra em tudo o que era lugar. Naquele dia mesmo andou por todas as partes à procura e: nada. Até que a Mulher-de-Capa-Branca, que estava indo para depois voltar, percebeu que havia saído do andar das coisas: - E agora? – pensou com tanta clareza a confusão-que-estava. A Mulher-de-Capa-Branca andou tanto que não havia percebido que estava bem distante da Cidade-dos-sem-Conversa. Avistou à sua frente uma árvore. Em cima da árvore: uma casa toda feita de cascas de banana. Ela percebeu que havia alguém ali dentro:- Tem alguém em casa? – gritou a mulher em busca de ajuda. De dentro da casa saiu um Macaco-Bola - uma espécie rara em dias-quadrados. A mulher ficou espantada, pois só tinha ouvido falar de uma espécie daquela em livros que tinha lido no tempo de infância, para ela aquilo nem existia, era apenas: ficção. - Bom dia, senhora. Em que posso ajudá-la? – perguntou o Macaco-Bola, com uma banana-quase-comida nas mãos. - Ajudar? Como assim? Ajudar... nunca ninguém disse... quero dizer... eu... eu estava andando pelas ruas, estava indo... eu teria que voltar... mas... eu... – disse a mulher tropeçando nas palavras. - A senhora está um pouco confusa. – percebeu o Macaco. - Estou. Tenho certeza que estou. – falou a Mulher de maneira direta. E contou tudo, ao Macaco-Bola, o que lhe havia acontecido naquele dia. Quando a Mulher-de-Capa-Branca se deu conta, as horas já haviam passado. – Nossa. Fiquei conversando e o tempo passou, a minha sombra mesmo ainda não achei. – disse a Mulher voltando ao desespero. - Olhe para trás. – disse com ar de sabedoria o Macaco-Bola. A Mulher olhou bem devagar para trás, e qual não foi a sua surpresa: a sombra estava ali, bem atrás dela, fazendo todos os movimentos que a mulher de maneira exultante fazia. - Não é possível. Como? Como ela voltou? Ela estava escondida aqui na sua casa, não é mesmo? – perguntou a mulher desconfiada. - Não, é muito provável que a senhora tenha escutado o “bom dia” ao meio-dia, e ao meio-dia o Sol está a pino. Os dois riram-se tanto que nada ficou igual. Nem a ficção, nem a Cidade-dos-sem-Conversa.

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