quinta-feira, 5 de abril de 2012

Numa conversa de ônibus, a mulher ouviu:
- O mundo já acabou, agora o que restam são as justificativas.

Na frente da escola dois outros diziam:
- Hoje pela manhã limpei meus preconceitos.
- Como foi?
- Fui a uma tourada e vi sete mortes: a primeira eu chorei, a segunda eu olhei, a terceira eu me olhei, a quarta eu parei, a quinta eu rezei, a sexta eu perdoei, a sétima eu senti.

Do outro lado da rua, a velha palavreava com outra:
- É um artista renomado.
- Renomado quer dizer que dizem muito seu nome?
- Não, renomado é que ele teve um nome um dia e hoje tem outro: tipo Fernanda Montenegro ser Arlete.
- Deve ser estranho ser alguém renomeado, não é?
- É acho que neste caso é renomeado e não renomado.
- É.
- Então, pode ser que renomado venha de nômade. Aquele que não tem onde viver depois que fica famoso.
- Pode.
- Quanta coisa uma palavra pode, não é?
- E a Lourdes, vai bem?

No centro do terreiro o velho falava em voz baixa:
- Incorporar é diferente de atrair. Incorporar é absorver com o corpo e atrair é não-trair. Às vezes incorporamos pessoas e às vezes atraímos pessoas. Às vezes incorporamos ideias, às vezes atraímos ideias.
Todos ficaram atraídos por aquele jeito de falar do velho.

Um comentário:

  1. Genial!

    destaco a limpeza dos preconceitos!

    sentir como último lugar, como depois! esta é a mosca: desde Aristóteles (ou antes) sentir é o começo.

    gracias

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