quarta-feira, 11 de abril de 2012

Dito de outro modo: Conversão

Certas gentes têm crenças. Outras tantas dizem sem ter.

Este "dizem sem ter" é proposital na oração. Quando o escritor ora aqui na frase, procura torcer a substância do verbo até a possessão do adjetivo.

Voltemos às "certas gentes" que têm crenças.
- São elas os sujeitos desta oração. - pensou o escritor digitando as letras.

Quando estas gentes encontram aquelas que "dizem sem ter", invocam-se tanto com este dizer-sem-ter que querem tornar o outro um ser-no-por-vir-da-salvação, sabem que converter este outro é também salvar-se a si próprio.

(O teólogo abriu o livro à direita do escritor e leu:)
- Dai ao crente esperança e temor e expandirá o rebanho.

(O escritor pede que o teólogo espere do lado de fora do gabinete para que ele termine a escrita iniciada por "certas gentes...".)

Pois bem, neste impulso de salvação - simplesmente porque pode ser que todos, demasiado todos, estejamos bem perdidos - que se apresenta a encruzilhada mais-de-beleza da conversão.

É possível que lá, onde queda a morada-da-fé, as gentes possam criar uma nova versão de si.
No ato de salvar o outro elas podem se deparar realmente com a sua perdição, pode ser que lá, elas possam verter o que nunca haviam vertido, como quem fura petróleo no deserto e sangra tão fundo, mais tão fundo, como um sangue-negro-da-comunhão.

Uma versão de si que se dá com o outro, no encontro da perdição.

Converter pode ser visto aqui como verter um outro de si com o outro-do-outro que com você também verte um outro de si.

Só assim a conversão pode ser o encontro-com-a-fé: a certeza de que nós carregamos, para além de filões de peles, camadas-de-outros-nós-a-serem-desfeitos-por-nós.

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