sexta-feira, 23 de março de 2012

Navegar Meninos V

Naquele lugar, todas as pessoas, antes de dormir, davam boa noite às pessoas que amavam, olhavam para a lua e se deitavam em suas camas. Inclusive as crianças. Mas, naquele dia, a menina deu boa noite aos pais, olhou para a lua, deitou-se na cama e... depois de algum tempo-antes-do-sonhar, escutou, lá longe, muito longe, um som esquisito e novo. Blundundungloptoc. A menina ficou toda arrepiada e cobriu-se inteira, até a cabeça, com o lençol amarelo. E o som persistia. Blundundungloptoc. Sem saber o que fazer, a menina foi, lentamente, tirando o lençol da cabeça, mas não parava de ouvir aquele som. Blundundungloptoc. Olhou para os lados, e tudo estava escuro, ajoelhou-se devagar na cama e olhou, através da vidraça do quarto, a lua. A lua estava coberta por uma nuvem escura. Seria por isso que a noite era tão escura dentro do quarto? Acho que a menina pensou nisso. Mas o medo era tanto, mas tanto que resolveu sair do quarto. Correu na direção da porta e abriu-a devagarzinho, o ranger lento da porta parecia um lobo a uivar noites cheias. À porta, viu diante de si um corredor enorme que levava até a sala de estar, no meio do caminho ficava o quarto dos pais. Como estava muito escuro, a menina foi apoiando-se nas paredes agarrada ao lençol amarelo. Ela percebeu que a porta do quarto dos pais estava entreaberta e foi entrando, quando olhou para a cama toda arrumada, com almofadas coloridas: eles não estavam ali. A menina deu um grito de medo e correu para a sala em disparada. Quando lá chegou avistou, no meio da sala, uma caixa de papelão enorme. Era quase do tamanho da sala de estar. A caixa além de tudo era alta. Estariam seus pais fazendo uma surpresa? A menina subiu no sofá e nas pontas dos pés conseguiu alcançar a tampa da caixa. Com muita dificuldade abriu a caixa. Qual não foi a sua surpresa: de dentro da caixa saiu aquele som esquisito. Blundundungloptoc. Assustada, a menina caiu sentada no sofá. Olhou para os lados, chamou pelos pais, gritou para que a lua saísse detrás daquela nuvem escura e iluminasse o escuro do medo. Nada. A menina estava sozinha. Ela ficou sentada ali, com as pernas encolhidas e com as palmas das mãos apertadas no rosto. O tempo foi passando, passando. De repente: Sozinha? pensou, então eu tenho medo de quê? De quem?. E pensando, sentindo, o medo tornou-se curiosidade e a menina ficou em pé sobre o sofá, ficou na ponta dos pés e abriu a caixa para ver o que de fato havia lá. Um clarão, apenas um clarão. Naquele momento a menina sentiu um beijo na testa e um som suave que foi envolvendo-a por inteiro. Bom dia, meu bem. O sol está radiante. Era a mãe que chamava a menina para um tempo-depois-do-sonhar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário