sexta-feira, 2 de março de 2012

Derivar Meninos V

Vivia vermelha. Tudo estava sempre de cabeça-para-baixo. O único remédio era abrir um buraco no fundo do quintal e enterrar a cabeça. Quando alguém-cabeça-para-baixo olhava para ela: nossa. Ficava beterraba. Quando ela não sabia responder uma pergunta: nossa. As bochechas ferviam São João. Ela então corria para o fundo do quintal da casa, abria um buraco e colocava a cabeça ali dentro até tudo voltar de dentro. Um dia, caminhando por uma rua de árvores de bicicletas azuis ela viu um buraco aberto bem no meio do passeio. Aproximou-se com vagar daquele buraco e puft. Colocou a cabeça ali dentro. Quando abriu os olhos: nossa. Viu cabeças enfiadas em buracos-outros e o mais engraçado é que era tudo gente-de-cabeça-para-cima: nossa. Eram meninas, meninos, gente grande e pequena, alta e baixa, magra e gorda e todo mundo cabeça-para-cima. Espantou-se um tanto que pensou felicidade dentro de si.

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