segunda-feira, 5 de março de 2012

Navegar Meninos II

Primeiro dia de aula. O menino sentava-se na menor pedra-musgo. O mestre em pé sobre a grama professava palavras-adjetivo que se amontoavam pesadas ao seu redor. Todos os outros meninos também, sentados em suas pedras-silêncio, enquanto ouviam o mestre, esperavam o pedido-mesmo de todos os anos. Meninos do Brejo-de-Cá, quero que todos escrevam uma redação sobre suas férias de Lá. Todos tratavam de pegar suas pontas de carvão e escrever nas pedras. Mas o menino, não. Empacou. Não quis escrever sobre o que não vivera e pensou para si, dentro de si: Nada. O menino olhou para o lado e para o mestre que recusava a sinceridade do não-ter-o-que-dizer. O menino então viu um caramujo que trazia uma casa-vida sobre si, leve sobre a grama. E passou a escrever. Escreveu tanto, que a sua pedra, de pequena, parecia maior. No dia seguinte, o mestre pediu para cada qual ler a sua redação. Os meninos-todos liam palavras-idem, dias de sol, noites acordadas em folia, gente que falava alto, castelos de areia. Hora do menino da pedra pequena-cheia. Terminou assim: ... Sim. Não gosto de esconder-me por detrás das palavras-de-qualidade. Prefiro continuar a ser grama e a sentir o substantivo do caramujo.

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