segunda-feira, 12 de março de 2012

Navegar Meninos IV

O tempo era de máscaras e todos que viviam naquele lugar esperavam ansiosos Aquela-Época-do-Ano. No templo do saber, homens e mulheres, vestidos de conhecimento, paravam seus afazeres sérios, assumiam novas alegrias e divertiam-se como e com as crianças entre confetes e espumas flutuantes. A menina não. Escondia-se no canto atrás do último livro-fantasia e inventava o seu mundo, um mundo habitado por seres que não tinham que fingir alegria: seres de tristeza-alegre. Nos lugares que a menina inventava, podia-se ser tudo. – Menina. O que está fazendo sentada, enquanto todos brincam suas máscaras-serpentinas? – perguntou A-Que-Mais-Poder-Tinha, do templo do saber. - Nada. – respondia a menina com olhos-de-susto. O que a menina mais tinha medo era ter que abandonar aquele mundo que estava aparecendo no mundo e voltar a conviver com aquelas alegrias-de-medo. A menina, puxada pelos braços, foi levada ao grande salão-alegria. - Divirta-se querida. – dizia às gargalhadas-terror a Mulher. A menina rodava em torno do salão, enquanto todos pulavam-músicas-de-época-feliz e olhavam para o seu rosto-susto. Ela encolhia os braços: queria fugir dali. Até que enxergou no canto do salão um menino de orelhas grandes. Foi aproximando-se devagarzinho. Parecia que ninguém o enxergava. Ele estava sentado de cócoras com os braços cruzados e a cabeça enfiada no peito. Quando a menina chegou bem perto, ele levantou a cabeça. - Você não tem máscara. – suspirou a menina-alegria. O menino emitiu dois ou três sons. Foi o suficiente para a menina aumentar o mundo que começava a aparecer no mundo. O salão foi desaparecendo com as lágrimas-surpresa que embaçavam os seus olhos. Entre marchas-confetes, serpentinas-pulos, a menina e o menino, em silêncio, viveram felizes Aquela-Época-do-Ano.

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