tag:blogger.com,1999:blog-4877539734324570672024-02-18T21:18:00.395-08:00Corpo em PalavrasA uva e o vinho
Um homem dos vinhedos falou, em agonia, junto ao ouvido de Marcela. Antes de morrer, revelou a ela o segredo:
- A uva - sussurrou - é feita de vinho.
Marcela Pérez-Silva me contou isso, e eu pensei: se a uva é feita de vinho, talvez a gente seja as palavras que contam o que a gente é.
Eduardo GaleanoGiuliano Tiernohttp://www.blogger.com/profile/03864830056915224329noreply@blogger.comBlogger102125tag:blogger.com,1999:blog-487753973432457067.post-78515482656921483772019-01-14T10:32:00.004-08:002019-01-14T10:34:52.379-08:00Sobre Cárceres<style type="text/css">
p.p1 {margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; font: 11.0px Helvetica; -webkit-text-stroke: #000000}
p.p2 {margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; font: 11.0px Helvetica; -webkit-text-stroke: #000000; min-height: 13.0px}
span.s1 {font-kerning: none}
span.Apple-tab-span {white-space:pre}
</style>
<br />
<div class="p1">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgsaTbIu2fBg7g66qt4Bfm54pNHFFKy140deEuwjTva9p2BF7KeE-2EnxMfdoOUFWA1tJiifyNzHPEdwkaYejvrKpgJiPeFY-5vWSXkrVc3C2Rsy-06pWCW0ek1nifv60748jhqxn33hU4/s1600/c0749.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgsaTbIu2fBg7g66qt4Bfm54pNHFFKy140deEuwjTva9p2BF7KeE-2EnxMfdoOUFWA1tJiifyNzHPEdwkaYejvrKpgJiPeFY-5vWSXkrVc3C2Rsy-06pWCW0ek1nifv60748jhqxn33hU4/s320/c0749.jpg" width="222" /></a><span class="s1">Num diálogo entre Elisabeth Roudinesco e Jacques Derrida, publicado no Brasil pela editora Jorge Zahar Editor no ano de 2004 (p. 124-126), lê-se:</span></div>
<div class="p2">
<span class="s1"></span><br /></div>
<div class="p1">
<span class="s1">Elisabeth Roudinesco: Como Mandela fez para não ficar louco depois de vinte e sete anos de prisão? Esta é uma das minhas grandes interrogações. Como fez para não se permitir encerrar na temporalidade imóvel do fenômeno carcerário?</span></div>
<div class="p2">
<span class="s1"></span><br /></div>
<div class="p1">
<span class="s1">Jacques Derrida: A pergunta também me persegue. Como conseguiu resistir? Para responder a tal exceção, podemos seguir e ver várias linhas se cruzarem. O próprio Mandela declara sua divida filial: a imagem do pai gravada nele desde a mais tenra infância, como uma lei branda e inflexível, a educação recebida da mãe. Dei também atenção, evidentemente, nas sessões do seminário que lhe dediquei, ao episódio da circuncisão, que ele descreve em detalhe nas suas Memórias. Na tradição xosa, a pessoa só se torna homem depois da realização desse rito, à idade de dezesseis anos. Assim, foi na sua herança psico-fantasística que o indivíduo Nelson Mandela (sobrenome sobre o qual conta como lhe foi dado na escola) foi obrigado a descobrir essa força fora do comum. O campo está livre para uma análise do caso pessoal. Um capital psíquico deve ter se constituído no nascimento ou na sua infância, e se determinado através de todas as características que conhecemos desse herói político que espantou o mundo e sem o qual mal podemos imaginar a história da África do Sul nesses últimos cinquenta anos. Mas uma vez que dissemos isto, tentando inclusive explicar assim uma constituição física excepcional é preciso analisar toda essa história política, ali onde foi e permanece maior que esse grande homem, e mais forte que sua força.<span class="Apple-converted-space"> </span></span></div>
<div class="p1">
<span class="s1"><span class="Apple-tab-span"> </span>Aliás Mandela se exprimiu longamente a esse respeito: sobre sua infância feliz, seus anos de aprendizagem, o exercício do seu ofício de advogado e sobre a maneira como se inscreveu, engajou na tempestade desse devir politico, nas lutas que trabalham o corpo da África do Sul desde o início do século, antes mesmo da instauração oficial do apharteid e do racismo de Estado. Na sua juventude participara de movimentos bastante organizados de protesto contra a opressão, movimentos aos quais estavam misturados brancos, cristãos ou judeus, e gente da Igreja. Durante esse período de sua vida, antes do grande processo durante o qual fez sua própria defesa, Mandela não era ameaçado nem na sua vida nem na sua autoridade. As coisas se tornaram terríveis para ela quando ficou encarcerado por um longo período de tempo. Também nesse caso é preciso levar em conta a diacronia de uma existência: o aprisionamento era decerto severo, às vezes desumano, mas eram possíveis contatos com o exterior e suas condições de detenção mudaram ao longo dos anos, sobretudo final.<span class="Apple-converted-space"> </span></span></div>
<div class="p1">
<span class="s1"><span class="Apple-tab-span"> </span>Algum tempo antes de sua libertação, em 1990, quando se esboçavam as primeiras negociações, as condições de prisão foram abrandadas. Os contatos com o exterior lhe permitiram sobreviver durante esse longo período carcerário, e as imagens que lhe chegavam do estrangeiro o ajudavam a prosseguir a luta. Dito isto, continuamos pasmos diante da estatura desse homem, diante do que mais que nunca podemos chamar sua grandeza. É também um homem grande, sorridente, atraente, sedutor provavelmente.<span class="Apple-converted-space"> </span></span></div>
<div class="p1">
<span class="s1"><span class="Apple-tab-span"> </span>Encontrei Mandela na cada dele e ele próprio me explicou isso. Conheceu momentos terríveis mas, ao mesmo tempo, conseguira instituir uma espécie de universidade na prisão, com uma dezena de presos políticos que se ensinavam uns aos outros e organizavam verdadeiros cursos.</span></div>
<div class="p1">
<span class="s1"><span class="Apple-tab-span"> </span>Quando o vi há dois anos, já estava com mais de oitenta anos acabava de se casar de novo e parecia feliz como rapaz no limiar de uma nova vida. Alguns instantes antes do nosso encontro, recebera Yasser Arafat durante três ou quatro horas (helicópteros, polícia, guardas do corpo, grande pompa etc). Permanecia brejeiro, bem disposto e bem-humorado, como se estivesse começando sua jornada, pronto a falar de tudo, da prisão mas também da França, queixando-se de brincadeira que não podia mais decidir sozinho sobre suas viagens (“Nada mais de liberdade de movimento, estou na prisão agora, e eis o meu carcereiro, disse designando seu principal colaborador”). Também me pediu notícias de Danielle Mitterrand. E depois: “Sartre ainda está vivo?”</span></div>
<br />Giuliano Tiernohttp://www.blogger.com/profile/03864830056915224329noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-487753973432457067.post-42468097403434503302019-01-05T09:22:00.000-08:002019-01-05T09:22:27.584-08:00Sentado na porta de casa com Ângela Pappiani escutei das poças de chuva dos velhos indígenas:<br />
<br />
"o povo ancestral é muito inteligente, tem boa memória"____________________________________<br />
<br />
Tinha muita saudade e começava a cantar ou tinha o coração partido pela ausência do Outro.<br />
<br />
De onde nascem as palavras criadoras? - perguntou a laranja à faca.<br />
<br />
- A palavra - escuta! - a palavra é um sopro que passa pelo corpo e se transforma em manifestação de pensamento. Continuou assim: - Emite a palavra e ela se transforma na coisa dita.<br />
<br />
Sim. Sua maneira de estar no mundo sempre se realiza na relação com o MUNDO, as coisas e as pessoas.<br />
<br />
Você consegue ver a olho nu o que está vivo e sempre se renovando?<br />
<br />
O que precisamos esquecer para voltar a lembrar?<br />
<br />
<br />Giuliano Tiernohttp://www.blogger.com/profile/03864830056915224329noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-487753973432457067.post-45115540693275849552014-01-07T02:54:00.001-08:002014-01-07T02:54:31.641-08:00Histórias de Ano Novo<br />
<br />
<b>A velha estava com dor de ouvidos:</b><br />
<i>- A vida não é algo que se tem. Um corpo que passa.</i><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<b>O vagabundo arrastava suas pestanas:</b><br />
<br />
<i>- A peste: os notáveis pedem pizza.</i><br />
<br />
<br />
<br />
<b>O menino sabia: voar </b><br />
<i>- O futuro não está simetricamente distribuído. </i>Giuliano Tiernohttp://www.blogger.com/profile/03864830056915224329noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-487753973432457067.post-67069149431607487802013-06-19T10:18:00.002-07:002013-06-19T10:18:07.373-07:00<h5 class="uiStreamMessage userContentWrapper" data-ft="{"type":1,"tn":"K"}" style="background-color: white; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; font-weight: normal; line-height: 18px; margin: 0px 0px 5px; padding: 0px 20px 0px 15px; word-break: break-word; word-wrap: break-word;">
<span class="messageBody" style="color: #333333; line-height: 1.38;">A palavra é o destino do humano, assim como o sinal é o destino dos pássaros! Usemos a palavra para que a vida seja maior do que o lucro!</span></h5>
Giuliano Tiernohttp://www.blogger.com/profile/03864830056915224329noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-487753973432457067.post-9132318015474476682013-01-03T10:43:00.000-08:002013-01-04T03:59:16.545-08:00São Paulo, 03 de janeiro, Pequeno ContoLá,<br />
havia cinco moscas e um cocô.<br />
<br />
O velho,<br />
acendeu um cigarro e abriu o livro.<br />
<br />
Enquanto lia, o homem interrompia vez por outra o destino da fábula para acompanhar os movimentos das moscas a sobrevoar o dejeto.<br />
<br />
Uma das moscas ficou todo o tempo deitada sobre o cocô.<br />
Parecia refastelar-se com a vida tão fugidia das moscas.<br />
Ela não pensava,<br />
portanto não sabia que a sua existência de mosca<br />
era tão curta.<br />
<br />
O velho voltou a ler, a fumar e a catar piscos de moscas.<br />
<br />
De vez em quando<br />
pensava na própria existência<br />
o que o fazia sentir o cheiro do cocô.Giuliano Tiernohttp://www.blogger.com/profile/03864830056915224329noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-487753973432457067.post-46231254801239181792012-12-26T15:08:00.000-08:002012-12-26T15:08:06.226-08:00São Paulo, 09 de dezembro, Pequeno conto.<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O homem entra na terceira porta à
esquerda, em primeira pessoa:</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i>- Estive cansado. Estive com dores na estrutura. Os dentes estiveram a
doer. Estive a abrir os olhos na rua escura. Estive a lavar o rosto pela manhã
com o rio cansado de pés sujos. Estive muitos anos sem saber que sou todos. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O homem fecha a porta e senta-se
na beira da cama da velha, também em primeira pessoa:</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i>- Aos cinqüenta, falo sem parar, ouço sem freios, olho tudo, toco tudo,
porque estou no nascimento primitivo, sem refinações europeias.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A velha, ainda deitada, levanta
um dedo e diz, em segunda pessoa:</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i>- Tu és quase um rude diante dos que têm mulheres oficiais, casas na
praia, bons cargos, repuxes nas peles, distrações.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i>(Será uma acusação? – </i>pergunta uma voz vinda de fora do texto.<i> Parece não caber naquele corpo que a voz
forasteira está a imaginar. – </i>constata o escritor<i>.)<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O homem levanta-se e vai até a
janela, olha o marceneiro a serrar mogno, em terceira pessoa:</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i>- Pode parecer ressentimento, mas confesso que é sentimento. (Silêncio).
Ele sente apenas. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A velha solta os olhos na direção
do homem, estão em duas pessoas:</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i>- Não há nada bonito?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i>- Tudo isto é. Encostei o corpo no mundo e por isso sinto.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A velha vira-se de lado e olha a
parede (continuam em duas pessoas):</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i>- Sei.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i>- Quanto menos eu sei, abraço melhor.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A velha suspira fundo e diz o
pressentimento _________________________________.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i>- Falta pouco para o desmanche da (minha) carne.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O homem corre até a cama e vira a
velha em sua direção:</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i>- Este é o ponto: matar este que está nascendo. Este é o ponto. Morrer
é desmanchar o que está nascendo, por isso quero escrever este livro. Espere.
Você precisa estar nesta cama. Quero que você veja o nascer dos filhos, quero
ensinar e ser amado. Quero ser lembrado. Por este que está nascendo com sangue
e fúria, não deixe este mundo.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A velha abre o sorriso calmo de
toda a vida. Conta uma história:</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i>- Quem sabe os dias sejam apenas para deitar sobre uma pedra e deixá-la
flutuar como nos desenhos que você fazia nos azulejos da casa amarela.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O homem dá um beijo na testa da
velha, em primeira pessoa, olha o que ela faz, em segunda pessoa, e a deixa... (a
morrer de saudade da sua infância, em terceira pessoa). </div>
Giuliano Tiernohttp://www.blogger.com/profile/03864830056915224329noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-487753973432457067.post-39628254672154529292012-11-23T09:21:00.003-08:002012-11-23T09:21:59.977-08:00<span style="color: orange; font-size: large;"><b>olhos em luta</b></span><br />
<span style="color: orange; font-size: large;"><b>entre o abre</b></span><br />
<span style="color: orange; font-size: large;"><b>e o fecha.</b></span><br />
<span style="color: orange; font-size: large;"><b><br /></b></span>
<br />Giuliano Tiernohttp://www.blogger.com/profile/03864830056915224329noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-487753973432457067.post-49187811547264524992012-10-29T11:03:00.001-07:002012-10-29T11:03:37.853-07:00Palavra caídaTirocínio de derrubar palavras.<br />
<blockquote>
</blockquote>
O João cavou o poço até os olhos <br />
<blockquote>
</blockquote>
abrirem-se para o Dentro.<br />
<blockquote>
</blockquote>
Do buraco caíam velhas peles <br />
<blockquote>
</blockquote>
de raposas vestidas de cordeiro.<br />
<blockquote>
</blockquote>
<i>-(Não o do Deus) - disseram os parênteses.</i><br />
<blockquote>
</blockquote>
As palavras lavavam-se no jorro da água<br />
<blockquote>
</blockquote>
e João não vinhava dúvidas.<br />
<blockquote>
</blockquote>
Uma delas, ergueu-se, ainda caída,<br />
<blockquote>
</blockquote>
apoiando um filho que passava pelos braços do João<br />
<blockquote>
</blockquote>
e fincou os pés no sentido.<br />
<blockquote>
</blockquote>
Por ali, andam dizendo (hoje) que este foi <br />
<blockquote>
</blockquote>
o exercício do João:<br />
<blockquote>
</blockquote>
<i>- Crescer até o amanhã e não esquecer de riscar o fósforo </i><br />
<blockquote>
</blockquote>
<i>
quando falar for palha.<blockquote>
</blockquote>
</i>
Giuliano Tiernohttp://www.blogger.com/profile/03864830056915224329noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-487753973432457067.post-24389596947015237862012-10-05T06:52:00.000-07:002012-10-05T06:52:45.022-07:00LáOs homens alimentam-se, sobretudo, de vibração.<blockquote></blockquote>
<blockquote></blockquote>
Nem todo real produz.<blockquote><blockquote></blockquote></blockquote>
Alguns, são tomates enfiados na terra brotando nas dobras do tempo.<blockquote></blockquote>
Ontem, virei a esquina:<blockquote></blockquote>
lá estavam dois homens,<blockquote></blockquote>
um domínio<blockquote></blockquote>
uma mulher<blockquote></blockquote>
e o amor.<blockquote></blockquote>
por lá também passaram todos os entes que tocaram seus quimonos no infinito passado.<blockquote></blockquote>
eu orei hoje pela manhã, <blockquote></blockquote>
agradecendo.<blockquote></blockquote>
E, com vergonha vos digo:<blockquote></blockquote>
<i>fiz pedidos (...)</i><blockquote></blockquote>
o primeiro: <blockquote></blockquote>
<i>que eu consiga ser alimento e boca.</i><blockquote></blockquote>
Giuliano Tiernohttp://www.blogger.com/profile/03864830056915224329noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-487753973432457067.post-2962012592277480712012-08-31T05:37:00.000-07:002012-08-31T05:37:42.689-07:00escutaO homem estava a sair de casa para mais um dia de trabalho:<br />
<i>- "Bom trabalho, SSSSSSEEEEEEUUUUUU Júlio".</i> - foi como escutou.<br />
<br />
A mulher era negra e estava em pé sobre os ombros de outra negra, de outra negra, de uma negra mais negra que ela, de outra que usava manto, de outra que usava farrapos, de outra nua, de outra vestida como rainha.<br />
<br />
Escutei (ou foi o homem que estou a criar? - <i>ato falho!</i>) um som de corrente sendo puxada em ruas feitas com paralelepípedos.<br />
<br />
A negra, de ancestralidade enraizada, dizia agora:<br />
<i>- "Seu".</i><br />
<br />
Eu era meu? E ela não era dela? - <i>pensou o homem arrancando uma espinha no canto do nariz.</i><br />
<br />
O "seu" que a língua obriga a dizer é possessivo. <br />
Duzentos anos depois de Iaiá assinar a missiva, o homem não sabia como continuar o dia.<br />
<br />
<i>Será que o homem pertencia mesmo a si mesmo?</i><br />
<br />
(pensou nos grilos dentro de gavetas que deixam amarelar papéis até que digam "sois grileiro")<br />
<br />
Mão-ciparam a terra. <br />
<i>- Há uma mão sobre a negra.</i> - pensei ou pensou.<br />
<br />
O homem foi até o armário de remédios e não encontrou nenhuma droga que amenizasse a sujeição forçada a seus semelhantes. <br />
<br />
Não há mais nada a fazer<br />
Senão:<br />
<i>e-mão-cipar a língua de tamanha violência.</i><br />
<br />
<br />
Giuliano Tiernohttp://www.blogger.com/profile/03864830056915224329noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-487753973432457067.post-35038965107857702122012-08-30T07:00:00.001-07:002012-08-30T07:07:36.532-07:00pontos de fugaI<br />
a alma não pensa sem imagem<br />
<br />
II<br />
trabalhar cansa<br />
<br />
III<br />
quando a inteligência não está à vontade, toda a alma está doente<br />
<br />
IV<br />
trabalhar com os problemas técnicos é procurar meios para um fim já suposto<br />
<br />
V<br />
a vontade delibera uma orientação: sempre<br />
<br />
VI<br />
liberdade (se existe) é deixar para os vermes a propaganda e a necessidade obsessiva de influenciar o mundo, as coisas, a natureza e as pessoas com a nossa opinião.<br />
<br />
<br />
<br />
<b>caminhos deste texto:</b><br />
<br />
A. alma como ânima ou movimento das emoções, alguma coisa que é animada.<br />
<br />
B. Simone Weil deu-me a mão hoje pela manhã, caminhamos pelo parque perto de casa. Ela estava com o corpo sujo de terra.<br />
<br />
Giuliano Tiernohttp://www.blogger.com/profile/03864830056915224329noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-487753973432457067.post-38690976793541815922012-08-08T06:21:00.000-07:002012-08-08T06:21:51.683-07:00Tradução 1O mistério não tem dois extremos:<br />
tem um.<br />
O único extremo do mistério está no centro<br />
do nosso próprio coração.<br />
<br />
Porém,<br />
não deixaremos nunca de buscar o outro extremo,<br />
o extremo que não existe.<br />
<br />
<i>(minha própria língua traindo a poesia vertical de Roberto Juarroz)</i>Giuliano Tiernohttp://www.blogger.com/profile/03864830056915224329noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-487753973432457067.post-16408912687770271772012-07-02T05:10:00.000-07:002012-07-02T05:10:03.591-07:00RoubosHoje pela manhã, li o jornal da Folha de minha cidade. (<i>Nome de Apóstolo que virou Santo - veja a perturbação</i>). <br />
<br />
Na coluna dos homens sábios, que falavam do cotidiano, havia um que dizia sua pendência para a direita política. Lá encontrei tantas certezas que no mesmo instante, roubei:<br />
<i>- O problema do mundo de hoje é que as pessoas inteligentes estão cheias de dúvidas e as pessoas idiotas estão cheias de certezas.</i><br />
<br />
Depois pensei numa mulher que foi um dia criança:<br />
<i>- Eu só comia beterraba porque meu pai dizia que era batom.</i><br />
<br />
Empunhei uma arma e saí pelos livros roubando:<br />
<i>- Não mudaremos a vida, se não mudarmos de vida.</i><br />
<br />
Fechei o jornal e chorei palavras enquanto tomava banho para iniciar mais um dia:<br />
<i>- Ler é escrever no caminhar da escrita.</i><br />
<br />
Depois do banho, a comunidade do guardador de rebanhos, trazia a lista dos roubados:<br />
<br />
Henry Charles Bukowski Jr.<br />
José Saramago<br />
Jaime Rocha<br />
<br />
<i>eram todos de esquerda.</i>Giuliano Tiernohttp://www.blogger.com/profile/03864830056915224329noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-487753973432457067.post-38772266032793021032012-06-25T05:25:00.000-07:002012-06-25T05:25:36.472-07:00Os Sete Desaforismos - Nova TemporadaI<br />
O canto do galo é mais forte quanto mais perto estamos de ontem.<br />
<br />
II<br />
Os corredores não foram feitos para correr, mas para secular passagem.<br />
<br />
III<br />
O cachorro rasgando o saco lembra que sempre resta alguma coisa.<br />
<br />
IV<br />
O ralo de vez em quando rompe o cheiro mais humano.<br />
<br />
V<br />
O mundo não está nem violento, nem não-violento: nós dizemos e ele é.<br />
<br />
VI<br />
A alma cresce com esbarrões: um jovem que caminha apressado e esbarra na lentidão de um velho sentado.<br />
<br />
VII<br />
Toda vez que você desconfia de uma crítica há algo lá no fundo que diz que pode ser mesmo.Giuliano Tiernohttp://www.blogger.com/profile/03864830056915224329noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-487753973432457067.post-4779557731070018932012-06-21T13:29:00.000-07:002012-06-21T13:29:19.828-07:00<i>- Certas pessoas, afeitas por números que falam, dizem que o oito nasceu com poder quando deitado com a barriga no chão.</i><br />
<br />
1<br />
Um vulto apareceu atrás do homem escuro. <br />
<br />
2<br />
Na manhã de 09 de janeiro Antonio acordou pondo o pé sobre a gaiola. <br />
<br />
3<br />
Na sequência daquela rua havia uma pinça rasgando a corrente. <br />
<br />
4<br />
Natanael escovava os dentes no sempre da pia. <br />
<br />
5<br />
A criança empinava saudade com linha de raciocínio. <br />
<br />
6<br />
Nunca mordeu uma banana sem pensar na manhã debaixo da mesa da cozinha. <br />
<br />
7<br />
O cano furado espirrava lembrança dos cadernos de memórias. <br />
<br />
8<br />
João calçava sandálias até em dia de carregar tijolos na cabeça. <br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<i>A fome roncava a barriga do Cristo, mesmo tendo comido tortas de maçã.</i><br />
<br />
<br />
Ninguém sabia se aquilo cuspiu o vivido ou o sonhado. Os dedos mostravam calo de escrita, agora era certo que o trabalho havia desgastado os ladrilhos da casa térrea.Giuliano Tiernohttp://www.blogger.com/profile/03864830056915224329noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-487753973432457067.post-17732084675964654442012-06-19T04:19:00.000-07:002012-06-19T04:19:02.091-07:00O artesão e a sua ferramentaTalvez toda a escuta venha do silêncio. <br />
<br />
Para constatar esta intuição é preciso estar à mercê do silêncio. <br />
<i>“Mas como?”</i> pergunta um leitor inquieto. <br />
<i>“Estar à mercê é ter técnica, no sentido de atribuir sentido ao que se faz, concatenando cada parte no grande eixo do chão de cada um”</i> – disse o ator. <br />
<br />
Um quesito precípuo: <i>atenção</i>. <br />
<br />
Como disse a filósofa Simone Weill: <br />
<i>“a atenção é uma alta forma de generosidade”</i>.Giuliano Tiernohttp://www.blogger.com/profile/03864830056915224329noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-487753973432457067.post-15141860515594131502012-06-14T06:37:00.002-07:002012-06-15T08:49:06.223-07:00Sopro vindo do OrienteO que é que se espera de um compromisso assumido? Consigo ou com o outro? Tanto faz. O que se espera, o que se tem esperança: missa, missão, prece. Se apressado pressou a escolha de alguma coisa descolada o reverso virá em breve cobrar-lhe que devolva. Agora se em prece comunga comigo ou consigo ou convosco ou conosco aquilo que de fato deve ser feito, agora o que se deve ao ato é cumpri-lo. <br />
<br />
<br />
Deixa a carne atravessar-se por certo esforço de manter-se atento sem vacilo do primeiro instante até o último. Deixa o prazer em química escorrer sobre o ato de se ser consistente do princípio ao fim naquilo que missou cumprir. Se sabe que em tudo há dor e prazer não precisa ficar o tempo todo acovardando-se a separar gesto de gemido. Tudo é junto quando se está presente em prece na única coisa que se pode fazer: dizer sim ao sim que se jurou ao agora, no tempo em que justo era dizer o não de outrora.Giuliano Tiernohttp://www.blogger.com/profile/03864830056915224329noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-487753973432457067.post-2795425496924267912012-06-14T06:04:00.002-07:002012-06-14T06:04:58.458-07:00Uma mulher vestida de camisa branca, calça branca, sapato branco, de idade vivida e com os cabelos presos, dizia na saída da estação:<blockquote></blockquote>
<i>- Eu disse para o professor que não sabia o conceito, mas que sabia dar um exemplo.</i><blockquote></blockquote>
Certa feita ouviu-se de um professor na Universidade:<blockquote></blockquote>
<i>- Quem fica dando exemplo não pensa com rigor.</i><blockquote></blockquote>
Os homens conversavam em volta da fogueira:<blockquote></blockquote>
<i>- O intervalo entre fazer o pão e ditar a receita.</i>Giuliano Tiernohttp://www.blogger.com/profile/03864830056915224329noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-487753973432457067.post-50177410981395100832012-06-13T18:22:00.000-07:002012-06-13T18:22:07.116-07:00a mulher enterra o cabelo na terra_________________________________________<blockquote></blockquote>
implantação ou implementação<blockquote></blockquote>
<i>P.S. não havia pós-escrito</i>Giuliano Tiernohttp://www.blogger.com/profile/03864830056915224329noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-487753973432457067.post-52645354205128689842012-06-12T07:45:00.000-07:002012-06-12T08:27:45.498-07:00Palavras que me nomeiamTodas as palavras me nomeiam quando eu sei escutá-las.<blockquote></blockquote>
Agora devo aprender a dizê-las para que outros<blockquote></blockquote>
se sintam nomeados acaso as escutem.<blockquote></blockquote>
Para nomear um nome é preciso todas as palavras.<blockquote></blockquote>
E agora,<blockquote></blockquote>
é a minha vez de continuar a cerimônia.<blockquote></blockquote>
<i>(Roberto Juarroz)</i>Giuliano Tiernohttp://www.blogger.com/profile/03864830056915224329noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-487753973432457067.post-17974799603316744902012-06-12T05:18:00.000-07:002012-06-12T06:37:53.764-07:00Retrato em cinco partes: um estudo iconológico da fome<b>1.</b><blockquote></blockquote>
<b>Re</b> é sempre "outra vez": por vezes novo, por vezes repetição.<blockquote></blockquote>
<b>2. </b><blockquote></blockquote>
<b>Trato</b> é sempre estética, pois refere-se à forma.<blockquote></blockquote>
<b>3.</b><blockquote></blockquote>
<i>Cena</i> é uma paisagem vista da janela. Algumas pessoas encarnadas como artistas, vagabundos ou loucos, abrem a porta e correm descalços.<blockquote></blockquote>
<b>4.</b> <blockquote></blockquote>
A mulher come algo quente uma vez ao dia<blockquote></blockquote>
ou,<blockquote></blockquote>
escova os dentes do destino, visto que<blockquote></blockquote>
suas mordidas insistem em sulcar o rosto.<blockquote></blockquote>
<i>- Duas outras observações:</i><blockquote></blockquote>
A.<blockquote></blockquote>
B.<blockquote></blockquote>
Retórica.<blockquote></blockquote>
<i>Obs: O termo "tórica" provém da palavra grega torus que significa barril. Aqui cabe pensar no Re da palavra, por sugestão de Luiza Christov.</i> <blockquote></blockquote>
<b>5.</b><blockquote></blockquote>
Os homens tornam-se humanos quando conjugam o verbo <i>finitar<b></b></i>:
<i>Estar afinado com a tristeza, pelo tom da quietude.</i>Giuliano Tiernohttp://www.blogger.com/profile/03864830056915224329noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-487753973432457067.post-87698202269507373812012-06-11T12:05:00.000-07:002012-06-11T12:05:26.239-07:00Na manhã de 11 de março <i>(lugar que nunca se explicou)</i> o carpinteiro jogou coentro na bacia e foi-se.
Quando todos levantaram-se de suas mansardas e não-mansardas, molharam os pés no chão, descalço de tempo.<blockquote></blockquote>
Hoje, oito anos depois do acontecido, João telefonou em minha casa e falou sobre os poetas, os filósofos e os médicos. <blockquote></blockquote>Disse-me:<blockquote></blockquote>
<i>- Pegamos o caminho de Parmênides de Eleia. Você imagina o que poderia ter acontecido se tivéssemos botado trabalho nas bacias-de-verdes-ramos?</i><blockquote></blockquote>
Parmênides ensinou duas vias: a da <i>Verdade</i> e a das <i>Opiniões dos Mortais</i>.<blockquote></blockquote>
Zenão continuou o pensamento de Parmênides e hoje o carpiteiro tem vergonha de dizer suas bacias.<blockquote></blockquote>
A noite, quando todos os bancos terminam o expediente e os seus cofres são trancados pela fome, João abre a porta de casa, chama um ou dois conhecidos e juntos, com as mãos em oração, cosem o princípio.Giuliano Tiernohttp://www.blogger.com/profile/03864830056915224329noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-487753973432457067.post-77801363633609108512012-06-01T04:29:00.000-07:002012-06-01T04:29:09.283-07:00<i>(dois conversam sem pontuações, sentados na pedra)</i><blockquote></blockquote>
<b>Um -</b> Tudo bem<blockquote></blockquote>
<b>Dois - </b>Tudo<blockquote></blockquote>
<b>Um -</b> Que dia<blockquote></blockquote>
<b>Dois -</b> Que dia<blockquote></blockquote>
<b>Um -</b> É<blockquote></blockquote>
<b>Dois -</b> É mesmo<blockquote></blockquote>
<b>Um -</b> Difícil, não é<blockquote></blockquote>
<b>Dois -</b> Difícil<blockquote></blockquote>
<b>Um -</b> Nada, e você<blockquote></blockquote>
<b>Dois -</b> Também não<blockquote></blockquote>
<b>Um -</b> Pois é<blockquote></blockquote>
<b>Dois -</b> Não é<blockquote></blockquote>
<b>Um -</b> E eles, por onde andam<blockquote></blockquote>
<b>Dois -</b> Nunca mais os vi<blockquote></blockquote>
<b>Um -</b> Segunda-feira eu vou<blockquote></blockquote>
<b>Dois -</b> Puxa, na segunda para mim é impossível<blockquote></blockquote>
<b>Um -</b> Uma hora dá certo<blockquote></blockquote>
<b>Dois -</b> Claro<blockquote></blockquote>
<b>Um -</b> E você<blockquote></blockquote>
<b>Dois -</b> O que é que tem<blockquote></blockquote>
<b>Um -</b> Nada<blockquote></blockquote>
<i>(<b>Um</b> continua o caminho de dizer, <b>dois</b> acaba de escutar alguma coisa e fica ali, parado em si. O que <b>dois</b> ouviu fez com que o escritor deixasse de dialogar as falas destas personagens que nasciam, roubado que foi por uma digressão).<blockquote></blockquote>
"E você" foi uma voz vinda de outro lugar para lembrá-lo de que ali havia alguém que falava e alguém que ouvia. Sempre somos lembrados que conversar é dizer algo até a borda da escuta.<blockquote></blockquote>
Quando não se dá atenção ao chamado, nascido no interior da conversa, entra-se no dizer apertado que espana o encontro.</i>Giuliano Tiernohttp://www.blogger.com/profile/03864830056915224329noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-487753973432457067.post-3381305205462820832012-05-31T04:20:00.000-07:002012-05-31T10:02:38.831-07:00"Educar é parar diante das profecias de fracasso e dizer: não".
<i>palavras ex-postas por uma educadora argentina</i><blockquote></blockquote>
Diante do posto:<blockquote></blockquote>
<i>emancipa-se quem está tratando da própria emancipação.</i><blockquote></blockquote>
Lá, naquela aldeia, moravam dois franceses: Jacotot e Rancière; Rancière era mais caladão, gostava mesmo de escrever. Jacotot era dado à exposição do verbo, e vez ou outra pedia uma xícara-de-futuro à Graciela.<blockquote></blockquote>
Foi ela quem lembrou a todos, no dia da grande chuva de sapos, que emancipar é tirar a mão opressora de cima de nossa cabeça.<blockquote></blockquote>
P.S.<blockquote></blockquote>
Joseph Jacotot<blockquote></blockquote>
Jacques Rancière<blockquote></blockquote>
Graciela Frigerio<blockquote></blockquote>
Angela Castelo Branco<blockquote></blockquote>
Juliana Jardim<blockquote></blockquote>
Luiza Christov<blockquote></blockquote>
Gonçalo M. Tavares<blockquote></blockquote>
Jorge Larrosa<blockquote></blockquote>Giuliano Tiernohttp://www.blogger.com/profile/03864830056915224329noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-487753973432457067.post-4398607143428996542012-05-30T04:52:00.000-07:002012-05-30T04:52:06.077-07:00<i>"Solte a criança interior!"</i> - disse uma velha maquiada que "ensinava" sobre a vida.<blockquote></blockquote>
Enxugando as lágrimas no guardanapo de limpar saudade, a mulher que participava do work-véu respondeu em transe:<blockquote></blockquote>
<i>- Sim, sim. Voltei a ser criança.</i><blockquote></blockquote>
<i>- Impossível.</i> - Gritou o filósofo, fumando um cachimbo de preto velho. E depois riu até o amanhecer.<blockquote></blockquote>
Lá, uma voz soou até o hoje.<blockquote></blockquote>
<i>A vida cresce. Há quem foi criança. Há quem adolesceu. Há quem ficou adulto. Talvez não seja mais possível ser criança.Talvez seja vital tornarmo-nos adultos. Talvez só seja possível a exposição total quando chegarmos à vestimenta de autoridade, pele mais grossa. Talvez quando estivermos na palavra autoridade como autoria, como gesto que nasce da proximidade que temos com nós mesmos. Talvez assim possamos gargalhar até o amanhecer.</i>Giuliano Tiernohttp://www.blogger.com/profile/03864830056915224329noreply@blogger.com1